Chovia de forma incessante, o som da chuva a bater na telha, algo que me em tempos me reconfortava e convidava-me a prolongar a estadia na cama teve o efeito contrário...
Saltei da cama, um impulso rápido sem pensar muito, seminu abri a cortina e espreitei a paisagem cinzenta e bucólica, um lugarejo abandonado e entregue ao ritmo de um domingo chuvoso.
Olhei para o livro que tinha ao lado da cama, uma história épica num passado longínquo, com os ingredientes base, amor, traição, amizade, sacrifício e um final quase trágico. Não me apetecia aquilo.
Precisava de sair enfrentar o cinzento, entrei no duche, mais prolongado que o habitual, o corpo a aquecer ao ritmo dos jatos de água quente, olhos fechados, a barba a pingar e a mente a divagar.
Jeans, botas, camisola de capuz e um bom casaco e lá vou eu...
Aproveitei uma brecha no temporal para caminhar entre as duas pontes. Atravessei a vila sem ver viva alma, como se fosse minha ou uma terra fantasma e dirigi-me para junto do rio.
Percorri as margens, observando a paisagem como se fosse a primeira vez, desliguei-me do passado e do futuro, toquei no cascalho, senti a frescura das águas límpidas, ali fiquei uma hora até que a chuva voltou em força.
Apetecia-me uma bebida quente, não em casa, meti-me no carro, segui para o castelo, lembrei-me de um pequeno bar com uma vista deslumbrante.
Impressionante, na rádio, numa simbiose com o dia, só passava música melancólica, sorri para mim mesmo.
Cheguei ao destino, apenas dois ou três turistas mais afoitos andavam pelo local, pedi um café longo e bem fumegante e sentei-me, apenas e só comigo mesmo...
Na verdade preciso de momentos destes, passo a semana a ver, estar, socializar, a ser um "eu" diria aprisionado...
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