Sou daqueles que demora a interiorizar o inevitável.
Algo em mim faz-me acreditar que é possível, mesmo quando tudo desaba à volta...
Nasci assim e provavelmente vou morrer assim, esgotado por tantas batalhas perdidas mas nas quais dei tudo o que tinha e às vezes o que não tinha...
No dia 29 morreu alguém pelo qual tinha um profundo amor e respeito.
Alguém com uma infinita paciência para um rapazinho que adorava histórias, histórias com animais, de lobos, mochos e raposas, de Penha Garcia, da loja, de nostalgia...
Que me levou em longos passeios por Campolide, pelo Jardim Zoológico, por Azeitão...
Com ele na primavera espreitei os ninhos dos melros e corvos, aprendi sobre agricultura e ensinei o meu primeiro cão.
Criamos cães, gatos, aves de todos os tipos, rimos e muitas vezes passávamos horas juntos e mal falávamos.
Sim, ele apesar de gostar de contar histórias não era um homem de muitas palavras.
Mas eu apreciava os silêncios, aprendia com eles.
Nunca o ouvi dizer mal de ninguém, mesmo quando as coisas corriam mal. Amava a minha avó de uma forma pura e genuína.
Mesmo nos últimos tempos quando ela estava internada e ele já muito debilitado, perguntava constantemente por ela...
Os últimos tempos foram difíceis, duros para um homem do campo, enérgico, duros para mim que o vi definhar.
Eu pressentia que o fim estava próximo, senti isso no dia de Natal, disse-o para mim...
Não partilhei com ninguém, guardei o mau pressentimento...
Ele partiu, se existe paraíso, céu, ou algo parecido, de certeza que existe um cantinho para a sua alma...
Não consegui chorar...cada vez que penso nele digo para mim mesmo;
"Gostava de ser metade do que ele foi"
Amo-te Luís para sempre...
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