quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

demorei

Sou daqueles que demora a interiorizar o inevitável.

Algo em mim faz-me acreditar que é possível, mesmo quando tudo desaba à volta...

Nasci assim e provavelmente vou morrer assim, esgotado por tantas batalhas perdidas mas nas quais dei tudo o que tinha e às vezes o que não tinha...

No dia 29 morreu alguém pelo qual tinha um profundo amor e respeito.

Alguém com uma infinita paciência para um rapazinho que adorava histórias, histórias com animais, de lobos, mochos e raposas, de Penha Garcia,  da loja, de nostalgia...

Que me levou em longos passeios por Campolide, pelo Jardim Zoológico, por Azeitão...

Com ele na primavera espreitei os ninhos dos melros e corvos, aprendi sobre agricultura e ensinei o meu primeiro cão.

Criamos cães, gatos, aves de todos os tipos, rimos e muitas vezes passávamos horas juntos e mal falávamos.

Sim, ele apesar de gostar de contar histórias não era um homem de muitas palavras.

Mas eu apreciava os silêncios, aprendia com eles.

Nunca o ouvi dizer mal de ninguém, mesmo quando as coisas corriam mal. Amava a minha avó de uma forma pura e genuína.

Mesmo nos últimos tempos quando ela estava internada e ele já muito debilitado, perguntava constantemente por ela...

Os últimos tempos foram difíceis, duros para um homem do campo, enérgico, duros para mim que o vi definhar.

Eu pressentia que o fim estava próximo, senti isso no dia de Natal, disse-o para mim...

Não partilhei com ninguém, guardei o mau pressentimento...

Ele partiu, se existe paraíso, céu, ou algo parecido, de certeza que existe um cantinho para a sua alma...

Não consegui chorar...cada vez que penso nele digo para mim mesmo;

"Gostava de ser metade do que ele foi"

Amo-te Luís para sempre...






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