sábado, 11 de maio de 2024

Parte 5

Os dias,  as noites, sobretudo as noites assumiram um ritual. 

Um permanente sonhar acordado. Um formigueiro no corpo, mil imagens a passar continuamente pela cabeça; beijos, prazer,  química,  sintonia, afastamento,  frieza,  entorpecimento...

A vida continuava, horas a trabalhar ao computador, horas no campo, o cansaço ajudava a dormir algumas horas até que um sábado numa pequena mercearia, o inevitável aconteceu. 

Não queria sentir o que senti na outra noite, melhor não queria transparecer o que senti.

Normalmente a tentativa de fazer humor é uma arma de dois gumes...

- Olá,  por aqui? Tantos anos e agora pasamos a vida a cruzar-nos, olha que aqui não há peixe fresco - sorri.

"Aqui não há peixe fresco", mau demais, mal acabei de dizer, tive vontade de me esconder. 

- Olá, muito obrigado pela dica, continuas muito espirituoso, apesar da barba estar a ficar grisalha.

E riu. 

Existem coisas que não se explicam a empatia de duas pessoas que ficam anos sem saber uma da outra, é estranho, surreal e ao mesmo tempo bom, é a única expressão que me ocorre.