domingo, 3 de novembro de 2013

Partiram rumo ao desconhecido

Não existe nada pior do que percebermos que a mulher que desejamos se encontra com outro homem.

Foi uma noite mal dormida, acordei com um humor  taciturno. Juntei os meus poucos pertences, comi um pouco de pão de centeio com um pedaço de queijo duro, bebi água e procurei os homens que me acompanhavam rumo ao norte.

Encontrei o grupo pronto, éramos cerca de vinte homens, António e Daerlig eram os mais experientes e assumiam a liderança de forma natural.

À excepção do saxão que tinha vestido uma cota de malha, escudo, machado e espada curta, os restantes estavam armados de forma muito ligeira.  Aproximei-me, reparei que alguns rezavam ao Deus cristão, outros deviam prestar culto ao Deus dos Soldados, Mitra enquanto Daerlig mantinha a religião ancestral, os Deuses do norte gelado.

- É hora de seguirmos o nosso caminho, quero palmilhar o máximo de léguas, Daerlig é o único que possui cavalo, segue na vanguarda - Sim jovem senhor, vamos aproveitar a manhã para percorrer a máxima distancia, os selvagens suevos devem estar embriagados ou ocupados a dividir algum despojo - disse Daerlig.


António assentiu chamou os restantes soldados,  partimos, deixando o pequeno bosque onde tínhamos acampado.

Antes de seguir dirigi-me ao legado -  Públio vamos partir, desejo que regresses em paz a Olissipo alerta o governador para o que se passa na província, deve enviar o quanto antes uma galera a pedir ajuda.

- Sim, tentarei chegar o mais depressa possível apesar de ter comigo velhos e crianças, vou enviar dois batedores para chegarem  o mais depressa a Olissipo - respondeu o legado.

- Promete que defendes os civis - afirmei com convicção - Farei os possíveis para que sobrevivam -  trocamos um cumprimento formal e segui.

Daerlig  seguia na frente, o objectivo era seguirmos a via que levava a estação de Dipo, uma pequena povoação que ficava a um dia de caminho, passando primeiro por Ad Atrum Flumen.

Existem momentos na via que nós marcam e apesar de agora ser um velho, uma sombra do passado, nunca me vou esquecer daquela manhã.

Seguíamos cautelosamente na estrada, qualquer barulho causa apreensão, as conversas eram em forma de sussurro.

Recordo-me daquela estrada que palmilhei dezenas e dezenas de vezes, ligava Ebora à poderosa Emerita Augusta, conhecia as árvores, os sopés, os rios e povoações.

Mas naquele dia o receio de encontrar o inimigo fazia com que um fio de suor atravessasse constantemente o meu rosto e a minha mão apertava inconscientemente o copo do gládio.

O receio tinha fundamento, perto de Ad Atrum Flúmen, Daerlig galopou furiosamente na nossa direção.

-  Vinte bárbaros junto ao rio Atrum, saquearam a estação. Dirigem- se para nós, preparam-se.

Antônio posicionou os homens com escudo e lança na vanguarda formando uma débil muralha de escudos, os restantes formavam atrás procurando uma nesga para atingir o inimigo.

Daerlig desmontou e aproximou-se de mim - Jovem Senhor fica perto de mim, respira e faz aquilo que te ensinei.

 Acenei coma cabeça o nervosismo incomodava-me mas pensar no meu pai e em todas as mortes que vira dava-me um fogo interior, um fogo que faria um dia de mim um guerreiro temido.

Os Suevos aproximavam-se...


A próxima parte da história relata a primeira escaramuça de Décimus.







Sem comentários:

Enviar um comentário

Parte 5

Os dias,  as noites, sobretudo as noites assumiram um ritual.  Um permanente sonhar acordado. Um formigueiro no corpo, mil imagens a passar ...