domingo, 10 de janeiro de 2016

João e Inês...o conto voltou...mais um excerto

Depois de lhe entregar o bilhete, de dizer que amava e ter enfrentado o marido ciumento, fiz a viagem de regresso.

Tinha um avião para apanhar no dia seguinte.

A viagem  foi longa, talvez demasiados km para percorrer sozinho.

Segui pela estrada nacional, curva contra curva, tendo o reflexo dos pinheiros que iam abanando ao sabor do vento estival.

Conduzi devagar, deixei o meu coração falar, apesar da solidão não me apetecia ouvir ninguém, não queria frases feitas, fraco consolo.

No fundo desejava encerrar o capítulo, a história logo se via.

Evitei  a terceira entrada na A23, continuei pela via mais sinuosa, estava abstraído, o piso ia piorando.
 
Acendi os máximos, mantive uma velocidade estável, aumentei o volume da música e chorei.

Estranho, relembrando esse dia não consigo distinguir se chorava de tristeza se de libertação por ter dito o que sentia.

O peso do amor não correspondido era um fardo demasiado pesado, a mudança iria fazer-me bem, era o que eu profundamente desejava.

Imaginei que era noite, que ela entrava pela minha casa, sorria de alegria, trocávamos um olhar apaixonado, daqueles em que não é preciso dizer qualquer palavra, um olhar de puro amor.

A lareira estava acesa, a sala a meia-luz e de fundo uma suave música de amor. Eu observava todos os passos que ela dava na minha direção, o coração acelerado, o corpo a pedir aquele calor, a pedir amor.

Ela tocou-me na mão, puxou-me magneticamente, peito contra peito, um abraço entrelaçado e disse-me "amo-te".

 Sublime, indescritível, a sensação de ser amado por um ser tão especial.

E eu respondi, amo-te tanto, senti tanto a tua falta e ali ficámos perdidos no espaço e tempo a trocar carícias a saborear cada segundo numa sintonia única.

Rimos, conversamos de coisas sérias, banais, brincámos, chorámos fizemos amor de uma forma apaixonada, intensa, numa química indescritível.

E de repente voltei à realidade, estava sozinho, numa estrada escura mas com uma certeza ela é e será sempre a mulher da minha vida...


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