Normalmente escolho os dias mais cinzentos para escrever.
Tal torna a minha escrita sorumbática, crua, nunca deixando de ser um extravasar de alma, a libertação de um conjunto de pensamentos que preenchem a minha mente.
Hoje, enquanto chove copiosamente, escrevo junto a janela, com o som das gotas a namorar o vidro e uma suave música de fundo.
Sonhei ser grande e sou pequeno, sonhei em sair, descobrir, criar e tornei-me pequeno, demasiado pequeno para os meus pensamentos, que desde criança nunca me abandonaram.
Falta de coragem, estimulo, de autoconfiança, do tal "click" no momento certo, uma habituação ao conforto das pequenas e insignificantes "coisinhas" mundanas que nos prendem.
Acho que é um pouco de tudo.
E sou aquilo que não quis ser mas no que tornei, um individuo com um emprego chato, absorvido num labirinto de burocracia.
A encarnar um papel diário, um papel...
Na verdade se morresse hoje, seria uma vida tão incompleta, tão estranha, tão sem sentido, seria banal.
O meu pensamento almeja mais. Almeja libertar-se de mim, percorrer as estradas com as quais sonho desde criança.
A minha alma é maior do que eu. Sonho com o dia em que o "grito" que está preso dentro de mim ecoe e as grilhetas se quebrem.
Os livros são o ópio...ver, sentir, compreender o verdadeiro sentido da vida...
Entre morrer velho ou morrer percebendo o motivo...prefiro o conhecimento.
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