quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Shewolf...



O lobo é um animal mítico, a história fez dele um vilão, a sociedade viu no lobo um inimigo milenar. 

Sempre vi o inverso, sempre admirei o lobo e a alcateia, a sua luta pela sobrevivência nos lugares mais inóspitos, a sua inteligência, força e sagacidade. 

Mas a força do lobo não é o individuo mas sim a alcateia. 

O ser humano podia aprender isso...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Portugal profundo...


Sempre fui do contra, é defeito é feitio, cada um tem a sua opinião eu defino como "personalidade forte".

Acho que nenhuma frase me define melhor...



Desde que sou gente que procuro conhecer as minhas raízes, de onde vi, onde cresci, quem me pegou ao colo, com quem brinquei, os meus antepassados, em suma a minha genologia.

Em traços gerais as minhas raízes são minhotas e beirãs (beira baixa). Vivi em Lisboa, Almada, Guimarães, Almada, Nordeste (S. Miguel), Almada, Seixal, Lisboa e novamente Almada.

Não vou ser consensual, não gosto de começar pelo principio, vivi 80% da minha vida na Margem Sul, conheço quase todos os recantos de Almada e Seixal.

Ainda hoje o ritual fazer de fazer jogging, saindo da minha casa e ir almoçar aos meus pais percorrendo 8km em ritmo de corrida, passando junto a locais onde ocupei largo tempo da minha juventude faz-me pensar nos amigos nas aventuras e desventuras de uma adolescência feliz. 

E com 33 anos encontro sempre um rosto familiar, alguém que foi ficando e a troca de um sorriso caloroso é uma recompensa para o cansaço físico.

Campolide, vivi nesse pitoresco bairro Lisboeta durante os meus dois primeiros anos de vida, rezam as crónicas, nada imparciais, fazia a delicia dos mais velhos graças a um língua atrevida e um sorriso fácil. 

É raro o ano onde não desço a Rua de Campolide e entro nas velhas lojas e sou recebido pelos velhos donos com um forte abraço ou beijo, o velho Antero Merceeiro, D. Isabel da padaria entre outros que infelizmente já partiram.

Já adulto e independente passei um ano em Campo de Ourique, pitoresco, agradável, boémio, mas vamos deixar o mundo urbano, partimos para a essência de Portugal, desconhecido de muitos.

Férias em Barcelos, junto ao rio Cávado, Castelo de Faria, terra de gente afável e simples, fascinado pelo mundo campestre, pela pastorícia do gado bovino, pela ordenha, pelas vinhas, pelas dezenas de primos, romarias e festas.

Origens em Penha Garcia, terra de contrabandistas, aldeia pequena com castelo no topo, gente de pele curtida pela idade mas sábia. Para lá chegar depois de passar Castelo Branco, ainda temos e enfrentar uma hora de longo caminho. Invernos frio, Verões escaldantes, bons pratos de caça (javali, veado). Termas em Monfortinho e Espanha ali ao lado.

Nordeste, São Miguel, num recanto da Ilha, longe de Ponta Delgada, vegetação luxuriante, flores como as hortênsias e azáleas são comuns. Miradouros esplendorosos, o azul profundo do oceano atlântico uma povoação perdida no tempo. 

Vivi no nordeste entre 1983 e 1985, voltei em 2006 e 2008, pouco mudou, os meus poucos retratos mentais e os slides que retrataram a minha presença naquele recanto demonstram que a mudança é residual. 

A beleza bucólica, o ar das gentes é o mesmo, reencontro velhos conhecidos, trocam-se abraços bebe-se um copo.

Um dia destes continuo a partilha...mas agora tenho um romance para escrever












Sétima Legião..

Hoje num vento do norte, fogo de outra sorte, sigo para o sul...

Mas Décimus vai para norte, jovem, impetuoso, vai tentar esquecer um amor impossível embrenhando-se num mundo caótico.

Será que vai sobreviver?

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"Até ao fim"...


Décimus sofre...

Existirá sentimento pior do que o ciúme, talvez não, vivi imensos perigos, a minha vida  sempre oscilou erraticamente entre a vida e a morte, enfrentei poderosos inimigos, senti medo, tive vontade de fugir, trai, fui traído, vi coisas inarráveis, mas nunca me vou esquecer do sorriso de Tibéria ao encontrar Públio.

 Nesse momento o mundo desabou em cima de mim, teria enfrentado livremente sozinho cem bárbaros de machado e escudo, senti uma raiva interior que crescia a cada momento de cumplicidade que Tibéria partilhava com o legado.

O pai de Tibéria era um velho conhecido da família de Cornélio, quando visitavam Olissipo para efetuar negócios visitavam sempre a casa dos Cornélios, Tibéria estava prometida a Córnelio, o casamento iria realizar-se no verão seguinte, mas a morte do pai de Tibéria e a guerra tinham criado um clima de incerteza em tudo e o casamento não era excepção.

Aproximei-me dos dois interrompendo de propósito o reencontro que aos meus olhos era quase insuportavel.

- Legado, temos de partir - disse num tom afirmativo - Décimus tenho de te agradecer por teres ajudado Tibéria, ela contou-me que a trataste com todo o respeito devido e tens razão vamos seguir, quero chegar o mais depressa possível a Olissipo para colocar a minha noiva em segurança e avisar o Governador do estado caótico da província.

- Eu não vou para Olissipo, vou para as montanhas, vou procurar as guarnições das civitas do interior montanhoso, quero lutar não fugir, sozinho ou acompanhado - era a raiva que falava por mim, a vontade de fugir de procurar um novo rumo, de quebrar a fantasia idílica que a minha mente tinha criado nos últimos dias .
- Podemos seguir umas milhas até ao cruzamento de Ebora, depois eu rumo para Olissipo e tu e quem te quiser acompanhar depois seguem para norte - respondeu afirmativamente Públio, penso que até estaria contente por se ver livre de mim.

- Tibéria, uma palavra - Sim Décimus - respirei fundo olhei diretamente para os seus profundos olhos e disse  em forma de sussurro - Nunca te vou esquecer.

Ela assentiu com os ombros e afastou-se, não trocamos mais nenhuma palavra até ao anoitecer. 

Acampamos na orla de um pequeno ribeiro. António e alguns soldados procuraram-me - Senhor, é verdade que não segue para Olissipo mas sim para os montes à norte? - disse Marco, um dos soldados - Quem te disse isso? - perguntei - Aquele, o do elmo cónico, um dos cavaleiros do Legado.

- É verdade Marco, sigo para norte, quero lutar pela Hispânia e não esperar escondido atrás de uma muralha pela queda de todo o Império, e gostava de ter a companhia de alguns de vós.

Eles olharam para a António e esperaram pelas suas palavras -Senhor não vivi cinquenta anos de lutas por todo o Império para assistir à sua destruição escondido - Assenti com a cabeça e toquei no ombro do velho soldado.  

O apoio dos legionários reconfortava o meu espirito amargurado.

Dirigi-me para a fogueira mais próxima e fui à procura do misterioso cavaleiro...




I...

I need to know now...

Hum...

Estou a saborear um bom branco de Borba e a pensar se as dezenas de leitores diários merecem um novo excerto do romance histórico...

Gosto de críticas, opiniões, pensamentos e os leitores deste blog são sempre tão silenciosos...

domingo, 8 de setembro de 2013

Mais uma página...


Públio Córnelio era na altura um homem dos seus trinta anos, porte garboso, alto, cheio de confiança, cabelo bastante claro, traços que salientavam uma origem gaulesa. A sua família descendia dos primeiros gauleses a terem o privilegio da cidadania romana após a conquista da Gália pelo General Júlio César. 

Desde o primeiro momento que senti uma irracional frieza contra mim, mascarada de uma fina cordialidade, pois mesmo em tempos sombrios eu ainda era filho de um senador. 

Apesar de Córnelio deter um cargo militar importante numa das Civitas mais importantes do que restava do império a ocidente, o mesmo mais por dever do que por simpatia explicou-me a sua presença na estrada que ligava Ebora a Pax Júlia.

- Décimus vamos baixar as armas e parlamentar - a qual eu acedi e informei os soldados que respiraram fundo e baixaram as armas com alivio por afinal serem compatriotas e não inimigos.

Os cavaleiros reuniram-se à nossa coluna e saímos da estrada e depois de colocar sentinelas em ambas as direções, Públio Córnelio partilhando um odre com vinho falou:

- Fui enviado pelo Governador Marco Júnio de Olissipo para perceber o que se passa no interior das províncias da Lusitânia  e Bética, não temos recebido comerciantes  nem correio imperial, apenas fugitivos com relatos de morte, saque e violação. O conselho da cidade deliberou o reforço das muralhas e o envio de um ligeiro grupo a cavalo para bater o território a sul e o envio de duas galeras para perceber o que se passa nas cidades junto ao mar.

Assenti com a cabeça, o Governador de Olissipo demonstrava previdência - mas a inquietação da juventude fez-me interromper o discurso do legado - Legado Públio e o que viste na longa marcha até nós encontrarmos? - Públio pigarreou, mostrando alguma estupefação pela minha questão abrupta mas respondeu. 

- Parti de Olissipo à três dias, encontrei villas queimadas, homens, mulheres e animais trespassados, alguns fugitivos meio loucos com histórias de atrocidades e deparei-me com Ebora abandonada e saqueada, apenas cães e abutres saciando-se com carne humana. 

- Os relatos eram verdadeiros os bárbaros desceram da Gália e saqueiam toda a Hispânia, não ficam muito tempo dentro das cidades, as suas crenças e superstições fazem-nos temer as construções de pedra. Após o saque e violação partem, dividem-se em grupos e apenas se juntam quando o propósito é saquear uma Civitas.

 Públio continuava o seu relato,  enquanto o ouvia reparava nos seus cavaleiros, eram soldados profissionais de olhar impassível, tinham de ter coragem para abandonar as muralhas de uma cidade e enfrentar o desconhecido, um deles, usando um elmo cónico que lhe escondia o rosto, olhava particularmente para mim. 

- Legado, penso que não deves seguir mais para sul, Pax Julia foi tomada, as pessoas que fazem parte deste grupo são os seus sobreviventes, seguíamos para norte a procura de auxilio, mas com as tuas informações apenas sabemos que Ebora já caiu, Olissipo pode estar sitiada, o nosso caminho seria o das montanhas, Norba ou Capera, são cidades fortificadas e difíceis de tomar.

  - Perdão senhores, temos de avançar o quanto antes e procurar um lugar para passar a noite, lá podemos discutir e tomar uma decisão - era António que ouvia a conversa a curta distância e como veterano sabia que com o aproximar da noite era essencial procurar abrigo.

- Soldado não existe discussão eu parto para Olissipo, posso oferecer escolta a quem me acompanhar - o tom do Legado soava mais a ordem do que a uma constatação, mas a sua atenção já tinha mudado de rumo, os seus olhos não enganavam, observava Tibéria.

- Vamos seguir os meus cavaleiros seguem na frente batendo o território, Décimo e António os vossos soldados que formem na retaguarda, entretanto deixem-me saudar uma velha conhecida.

E partimos...





Mais um domingo...

Os meus dias começam quase sempre cedo, hoje não é excepção.

Jogging para cansar o corpo e aliviar a alma:)

sábado, 7 de setembro de 2013

mais uma página da obra "Até ao fim"

Apagamos as fogueiras, reunimos os nossos pertences e seguimos rumo a norte. Formávamos uma fraca coluna, velhos, novos, mulheres e alguns soldados da guarnição Pax Julia.

Segui na vanguarda tentando transmitir toda a calma possível aos restantes soldados que me acompanhavam, mas dentro de mim o medo crescia a cada passo que dava, o medo de falhar, de não honrar o nome legado pelo meu pai. 

Seguíamos para norte pela via romana que levava a Ebora, era uma viagem que uma coluna de legionários faria  num dia mas o nosso grupo era lento e o medo fazia com que  a marcha fosse penosa, tínhamos receio de ser surpreendidos por batedores da horda sueva. 

A minha mão segurava com força o punho da espada, impunha  a mim mesmo a mascara da confiança que um romano teria de ter face ao perigo, mas o meu olhar procurava constantemente Tibéria. 

Mulher graciosa, mesmo na situação caótica em que nos encontrávamos, emanava uma beleza quase divina, uma beleza simples que sobressaia apesar das vestes sujas e puídas. 

Ela encarava o meu olhar e sorria levemente, inundando o meu jovem coração de uma coragem temerária.

Até que foi acordado do meu sonho pelos gritos do António.

- Décimus, ali junto a colina - Olhei com atenção e vi um grupo de dez cavaleiros que avançavam  de lanças erguidas na nossa direção - António chama os soldados todos para frente, vamos formar um escudo e proteger as mulheres, crianças e velhos.

- Soldados a mim - gritou António - segurei no meu escudo e gládio e juntei aos homens enquanto sentia o choro por trás da nossa ténue linha.

Homens - sorri, um sorriso forçado mas que sabia que transmita confiança aos soldados - nenhum de nós vai ceder, o inimigo não é clemente, vocês viram o que se passou na Civitas, somos romanos, lutamos até ao fim.

Éramos cerca de vinte soldados, nem todos tínhamos escudo, uns tinham gládios outros lanças mas apesar de assustados e mal armados todos assentiram com um grunhido ao meu discurso, íamos lutar até ao fim.

O grupo de cavaleiros aproximava-se, galopavam sem grande pressa, observando com alguma cautela, até que pararam à distância de um tiro de flecha. Um dos elementos avançou com o braço no ar, indicando que queria parlamentar.

Com a proximidade dos cavaleiros, percebemos que não eram suevos, eram romanos, mas a desconfiança entre os dois grupos era latente, ninguém baixava as armas.

Avancei ligeiramente, aproximei-me do  cavaleiro e apresentei-me - Sou Décimus, filho do Senador Marcus Aetius, comando um grupo de sobreviventes de Pax Julia, seguimos para norte procurado abrigo e novidades - o cavaleiro tirou o elmo e apresentou-se - Avé Décimus, sou o legado Públio Cornélio.

Nesse dia conheci um inimigo, mais tarde percebi que na guerra nem sempre os inimigos estão do outro lado.








- amanhã publico mais um excerto, para quem vai começar agora a ler é procurar no histórico do blog e vai encontrar outros excertos da obra.






Nice song



...quanto mais conheço algumas pessoas, melhor percebo o motivo pelo qual estão sozinhas, resumindo..."feitios de merda" =)