sábado, 7 de setembro de 2013

mais uma página da obra "Até ao fim"

Apagamos as fogueiras, reunimos os nossos pertences e seguimos rumo a norte. Formávamos uma fraca coluna, velhos, novos, mulheres e alguns soldados da guarnição Pax Julia.

Segui na vanguarda tentando transmitir toda a calma possível aos restantes soldados que me acompanhavam, mas dentro de mim o medo crescia a cada passo que dava, o medo de falhar, de não honrar o nome legado pelo meu pai. 

Seguíamos para norte pela via romana que levava a Ebora, era uma viagem que uma coluna de legionários faria  num dia mas o nosso grupo era lento e o medo fazia com que  a marcha fosse penosa, tínhamos receio de ser surpreendidos por batedores da horda sueva. 

A minha mão segurava com força o punho da espada, impunha  a mim mesmo a mascara da confiança que um romano teria de ter face ao perigo, mas o meu olhar procurava constantemente Tibéria. 

Mulher graciosa, mesmo na situação caótica em que nos encontrávamos, emanava uma beleza quase divina, uma beleza simples que sobressaia apesar das vestes sujas e puídas. 

Ela encarava o meu olhar e sorria levemente, inundando o meu jovem coração de uma coragem temerária.

Até que foi acordado do meu sonho pelos gritos do António.

- Décimus, ali junto a colina - Olhei com atenção e vi um grupo de dez cavaleiros que avançavam  de lanças erguidas na nossa direção - António chama os soldados todos para frente, vamos formar um escudo e proteger as mulheres, crianças e velhos.

- Soldados a mim - gritou António - segurei no meu escudo e gládio e juntei aos homens enquanto sentia o choro por trás da nossa ténue linha.

Homens - sorri, um sorriso forçado mas que sabia que transmita confiança aos soldados - nenhum de nós vai ceder, o inimigo não é clemente, vocês viram o que se passou na Civitas, somos romanos, lutamos até ao fim.

Éramos cerca de vinte soldados, nem todos tínhamos escudo, uns tinham gládios outros lanças mas apesar de assustados e mal armados todos assentiram com um grunhido ao meu discurso, íamos lutar até ao fim.

O grupo de cavaleiros aproximava-se, galopavam sem grande pressa, observando com alguma cautela, até que pararam à distância de um tiro de flecha. Um dos elementos avançou com o braço no ar, indicando que queria parlamentar.

Com a proximidade dos cavaleiros, percebemos que não eram suevos, eram romanos, mas a desconfiança entre os dois grupos era latente, ninguém baixava as armas.

Avancei ligeiramente, aproximei-me do  cavaleiro e apresentei-me - Sou Décimus, filho do Senador Marcus Aetius, comando um grupo de sobreviventes de Pax Julia, seguimos para norte procurado abrigo e novidades - o cavaleiro tirou o elmo e apresentou-se - Avé Décimus, sou o legado Públio Cornélio.

Nesse dia conheci um inimigo, mais tarde percebi que na guerra nem sempre os inimigos estão do outro lado.








- amanhã publico mais um excerto, para quem vai começar agora a ler é procurar no histórico do blog e vai encontrar outros excertos da obra.






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