Existirá sentimento pior do que o ciúme, talvez não, vivi imensos perigos, a minha vida sempre oscilou erraticamente entre a vida e a morte, enfrentei poderosos inimigos, senti medo, tive vontade de fugir, trai, fui traído, vi coisas inarráveis, mas nunca me vou esquecer do sorriso de Tibéria ao encontrar Públio.
Nesse momento o mundo desabou em cima de mim, teria enfrentado livremente sozinho cem bárbaros de machado e escudo, senti uma raiva interior que crescia a cada momento de cumplicidade que Tibéria partilhava com o legado.
O pai de Tibéria era um velho conhecido da família de Cornélio, quando visitavam Olissipo para efetuar negócios visitavam sempre a casa dos Cornélios, Tibéria estava prometida a Córnelio, o casamento iria realizar-se no verão seguinte, mas a morte do pai de Tibéria e a guerra tinham criado um clima de incerteza em tudo e o casamento não era excepção.
Aproximei-me dos dois interrompendo de propósito o reencontro que aos meus olhos era quase insuportavel.
- Legado, temos de partir - disse num tom afirmativo - Décimus tenho de te agradecer por teres ajudado Tibéria, ela contou-me que a trataste com todo o respeito devido e tens razão vamos seguir, quero chegar o mais depressa possível a Olissipo para colocar a minha noiva em segurança e avisar o Governador do estado caótico da província.
- Eu não vou para Olissipo, vou para as montanhas, vou procurar as guarnições das civitas do interior montanhoso, quero lutar não fugir, sozinho ou acompanhado - era a raiva que falava por mim, a vontade de fugir de procurar um novo rumo, de quebrar a fantasia idílica que a minha mente tinha criado nos últimos dias .
- Podemos seguir umas milhas até ao cruzamento de Ebora, depois eu rumo para Olissipo e tu e quem te quiser acompanhar depois seguem para norte - respondeu afirmativamente Públio, penso que até estaria contente por se ver livre de mim.
- Tibéria, uma palavra - Sim Décimus - respirei fundo olhei diretamente para os seus profundos olhos e disse em forma de sussurro - Nunca te vou esquecer.
Ela assentiu com os ombros e afastou-se, não trocamos mais nenhuma palavra até ao anoitecer.
Acampamos na orla de um pequeno ribeiro. António e alguns soldados procuraram-me - Senhor, é verdade que não segue para Olissipo mas sim para os montes à norte? - disse Marco, um dos soldados - Quem te disse isso? - perguntei - Aquele, o do elmo cónico, um dos cavaleiros do Legado.
- É verdade Marco, sigo para norte, quero lutar pela Hispânia e não esperar escondido atrás de uma muralha pela queda de todo o Império, e gostava de ter a companhia de alguns de vós.
Eles olharam para a António e esperaram pelas suas palavras -Senhor não vivi cinquenta anos de lutas por todo o Império para assistir à sua destruição escondido - Assenti com a cabeça e toquei no ombro do velho soldado.
O apoio dos legionários reconfortava o meu espirito amargurado.
Dirigi-me para a fogueira mais próxima e fui à procura do misterioso cavaleiro...
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