domingo, 8 de setembro de 2013

Mais uma página...


Públio Córnelio era na altura um homem dos seus trinta anos, porte garboso, alto, cheio de confiança, cabelo bastante claro, traços que salientavam uma origem gaulesa. A sua família descendia dos primeiros gauleses a terem o privilegio da cidadania romana após a conquista da Gália pelo General Júlio César. 

Desde o primeiro momento que senti uma irracional frieza contra mim, mascarada de uma fina cordialidade, pois mesmo em tempos sombrios eu ainda era filho de um senador. 

Apesar de Córnelio deter um cargo militar importante numa das Civitas mais importantes do que restava do império a ocidente, o mesmo mais por dever do que por simpatia explicou-me a sua presença na estrada que ligava Ebora a Pax Júlia.

- Décimus vamos baixar as armas e parlamentar - a qual eu acedi e informei os soldados que respiraram fundo e baixaram as armas com alivio por afinal serem compatriotas e não inimigos.

Os cavaleiros reuniram-se à nossa coluna e saímos da estrada e depois de colocar sentinelas em ambas as direções, Públio Córnelio partilhando um odre com vinho falou:

- Fui enviado pelo Governador Marco Júnio de Olissipo para perceber o que se passa no interior das províncias da Lusitânia  e Bética, não temos recebido comerciantes  nem correio imperial, apenas fugitivos com relatos de morte, saque e violação. O conselho da cidade deliberou o reforço das muralhas e o envio de um ligeiro grupo a cavalo para bater o território a sul e o envio de duas galeras para perceber o que se passa nas cidades junto ao mar.

Assenti com a cabeça, o Governador de Olissipo demonstrava previdência - mas a inquietação da juventude fez-me interromper o discurso do legado - Legado Públio e o que viste na longa marcha até nós encontrarmos? - Públio pigarreou, mostrando alguma estupefação pela minha questão abrupta mas respondeu. 

- Parti de Olissipo à três dias, encontrei villas queimadas, homens, mulheres e animais trespassados, alguns fugitivos meio loucos com histórias de atrocidades e deparei-me com Ebora abandonada e saqueada, apenas cães e abutres saciando-se com carne humana. 

- Os relatos eram verdadeiros os bárbaros desceram da Gália e saqueiam toda a Hispânia, não ficam muito tempo dentro das cidades, as suas crenças e superstições fazem-nos temer as construções de pedra. Após o saque e violação partem, dividem-se em grupos e apenas se juntam quando o propósito é saquear uma Civitas.

 Públio continuava o seu relato,  enquanto o ouvia reparava nos seus cavaleiros, eram soldados profissionais de olhar impassível, tinham de ter coragem para abandonar as muralhas de uma cidade e enfrentar o desconhecido, um deles, usando um elmo cónico que lhe escondia o rosto, olhava particularmente para mim. 

- Legado, penso que não deves seguir mais para sul, Pax Julia foi tomada, as pessoas que fazem parte deste grupo são os seus sobreviventes, seguíamos para norte a procura de auxilio, mas com as tuas informações apenas sabemos que Ebora já caiu, Olissipo pode estar sitiada, o nosso caminho seria o das montanhas, Norba ou Capera, são cidades fortificadas e difíceis de tomar.

  - Perdão senhores, temos de avançar o quanto antes e procurar um lugar para passar a noite, lá podemos discutir e tomar uma decisão - era António que ouvia a conversa a curta distância e como veterano sabia que com o aproximar da noite era essencial procurar abrigo.

- Soldado não existe discussão eu parto para Olissipo, posso oferecer escolta a quem me acompanhar - o tom do Legado soava mais a ordem do que a uma constatação, mas a sua atenção já tinha mudado de rumo, os seus olhos não enganavam, observava Tibéria.

- Vamos seguir os meus cavaleiros seguem na frente batendo o território, Décimo e António os vossos soldados que formem na retaguarda, entretanto deixem-me saudar uma velha conhecida.

E partimos...





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