- É uma pessoa que conheci faz muitos anos, chegámos a trabalhar na mesma empresa - e acrescentou na tentativa de que a conversa acabasse aí - Faz muitos anos que não o via...
- Ok, agora são quase vizinhos na província e confesso que achei o tipo um bocado o esquisito - disse ele.
- Sempre foi um bocado estranho - e a conversa sobre o Pedro, o tal estranho que passado tantos anos se voltou a cruzar com o seu olhar terminou.
Nessa noite ela esperou que o marido fosse dormir. A cabeça fervilhava, o passado em imagens difusas voltava a ocupar um espaço que ela talvez por engano achou preenchido.
Não era a forma como tudo tinha terminado, doloroso para todos, insano, o vazio enorme, ela nessa noite fria e húmida recordava a forma como se entregavam um ao outro.
A sensação de tempo e espaço a desvanecer, os corpos quentes, ele grande, quente, ousado, ela pequena, intensa, ambos sedentos um do outro.
Era mágico pensou ela e apesar de gostar do marido, que lhe dava conforto, carinho e inclusive tinham um filho.
Tinha tudo mas não tinha amor, adormeceu a pensar nessas palavras.
Ele sozinho, não muito longe, solitário olhava as estrelas...