Nunca um olá me tinha deixado assim.
Petrificado, um segundo parecia uma hora.
- Olá, que coincidência - disse eu.
- O que fazes por aqui? Sítio estranho para nos voltarmos a ver. Este é o Rui, o meu marido.
- Olá Rui - disse eu observando o homem que estava colado a ela, demonstrando claramente que eu era um número fora da equação - Comprei uma pequena quinta e passo aqui a maioria dos fins de semana, virei rústico.
Uma tentativa desajeitada de fazer humor, sem qualquer impacto, teria sido da cerveja ou estaria mesmo nervoso?
- Que giro, o pai do Rui tem uma herdade em São Salvador da Aramenha.
- Marvão é mesmo pequeno - disse eu, continuando a tentar fintar os nervos.
- Bem vou continuar com a minha cerveja, divirtam-se e virei novamente para o simpático empregado do bar e pedi mais uma.
- Adeus João, tirando estares mais velho, estás igual, vemo-nos por aí.
E sorriu. Tantas memórias que me passaram pela cabeça, a primeira troca de olhares, as primeiras palavras, o olhar dela, o meu jeito trapalhão, fiquei a sonhar acordado.
Sempre senti que aquela ferida nunca tinha sido totalmente curada. Mas a vida tinha continuado e eu mais velho e no "fim do mundo".
Resolvi sair. Ir ao castelo, apanhar vento, ver as estrelas. Precisa de esquecer o passado.
Enquanto eu me perdia em divagações naquele café perdido na aldeia, alguém não tinha gostado da conversa.
- Quem era aquele tipo meio estranho?
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