quarta-feira, 3 de abril de 2024

Caminhando pelo interior - parte 1

Algures no Portugal profundo...

Era noite cerrada, estava aborrecido, com tudo e com nada.  A vida era uma soma de várias derrotas, uma manta de pensamentos e de decisões muitas vezes erradas.

Pernoitava sozinho numa casa térrea,  isolada, com uma vista sobre a planície que transmitia uma sessão de vastidão e paz. 

Apesar do ambiente eu sentia tudo menos paz de espírito. 

Abri o frigorífico, a cerveja tinha acabado.  

Bolas, erro crasso. A cerveja por vezes pode ser a melhor companhia, silenciosa, boa ouvinte.

Eram 22h. Isolado, sem nada para beber, cérebro a mil à hora.

Tinha de sair, estava frio, vesti um casaco,  entrei no carro.

Carro...um jipe velho, daqueles que já passaram por muito, mas que nunca param...

Arranquei,  rádio na m80, destino o café da aldeia. 

O café aldeia, como todos os cafés das pequenas terras, tinha a fauna diária e noturna.

Eu só conhecia fugazmente a diurna. Mas hoje isso ia mudar. 

4km depois, estacionei à porta.  Objetivo beber uma ou duas Sagres,  regressar e descansar de um dia cansativo. 

Entrei, fumo, rostos de pele curtida, olhares, "o que quer o gajo de fora".

Disse boa noite, pedi uma cerveja, concentrei-me na música que passava no pequeno rádio atrás do balcão. 

Tocava o "oceano pacífico", programa de rádio icónico e que fazia daquele ambiente tudo menos romântico um antro de contradição. 

Alheio às conversas, aos sussurros, bebia, absorto nos meus pensamentos e no que me tinha feito procurar refúgio algures no Alentejo profundo. 

Até que ela entrou...

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