Era noite cerrada, estava aborrecido, com tudo e com nada. A vida era uma soma de várias derrotas, uma manta de pensamentos e de decisões muitas vezes erradas.
Pernoitava sozinho numa casa térrea, isolada, com uma vista sobre a planície que transmitia uma sessão de vastidão e paz.
Apesar do ambiente eu sentia tudo menos paz de espírito.
Abri o frigorífico, a cerveja tinha acabado.
Bolas, erro crasso. A cerveja por vezes pode ser a melhor companhia, silenciosa, boa ouvinte.
Eram 22h. Isolado, sem nada para beber, cérebro a mil à hora.
Tinha de sair, estava frio, vesti um casaco, entrei no carro.
Carro...um jipe velho, daqueles que já passaram por muito, mas que nunca param...
Arranquei, rádio na m80, destino o café da aldeia.
O café aldeia, como todos os cafés das pequenas terras, tinha a fauna diária e noturna.
Eu só conhecia fugazmente a diurna. Mas hoje isso ia mudar.
4km depois, estacionei à porta. Objetivo beber uma ou duas Sagres, regressar e descansar de um dia cansativo.
Entrei, fumo, rostos de pele curtida, olhares, "o que quer o gajo de fora".
Disse boa noite, pedi uma cerveja, concentrei-me na música que passava no pequeno rádio atrás do balcão.
Tocava o "oceano pacífico", programa de rádio icónico e que fazia daquele ambiente tudo menos romântico um antro de contradição.
Alheio às conversas, aos sussurros, bebia, absorto nos meus pensamentos e no que me tinha feito procurar refúgio algures no Alentejo profundo.
Até que ela entrou...
Sem comentários:
Enviar um comentário