Foi um momento que nunca irei
esquecer, descobri o amor, convidei-a a sentar-se junto ao
fogo.
António pressentindo a ausência de perigo deslocou-se para o outro
extremo do acampamento improvisado.
- A noite está fria, senta-te
junto ao lume. Ela acenou com a cabeça de forma ligeira sentando-se à minha
frente.
As chamas crepitavam e exerciam
uma barreira física entre os nossos corpos.
Observei-a discretamente, os
longos cabelos negros, a tez pálida os traços finos que culminavam nuns lábios
que rivalizam com a própria Deusa do Amor. Mas foram os profundos olhos cor de
mel que me prenderam a respiração.
O olhar nada escondia, era demasiado profundo,
demasiado perfeito, nele conseguia ver um misto de medo, tristeza e ao mesmo tempo
esperança num amanhã melhor.
O vento soprou com mais força
afastando as chamas, cruzamos o olhar, notei desconforto no olhar dela, tinha
perdido a noção do tempo, sentia que tinha de quebrar o gelo, mas sem o saber
estava a apaixonar-me a um ritmo alucinante e paixão faz os jovens serem tolos.
No passado já tinha vivido brincadeiras fugazes com mulheres, escravas na
Villa, um beijo roubado uma carícia.
Mas nunca me tinha sentido
assim, eu sabia que era um mau cristão, vivia sob a influência dos Deuses dos meus
Antepassados, mas o rosto dela vi o reflexo dos anjos que os cristãos falavam, a beleza pura e
simples que não imaginava existir.
Hoje sou um velho, numa terra
conquistada, o meu nome obriga-me a viver escondido. Sobrevivi a guerras e emboscadas, perdi amigos,
irmãos, vi atrocidades, glória, medo, mas nunca esqueci o momento em que a conheci e ouvi o seu nome. Em muitos momentos foram essas memórias que me fizeram seguir o caminho sinuoso que decidi traçar.
- Chamo-me Decimus e tu? Ela ao início
hesitou, um compasso de espera doloroso, onde pensei que me fosse ignorar ou
que o choque da queda da cidade lhe tivesse quebrado o espirito. Até que
respondeu. – O meu nome é Tibéria
E o meu coração desfez-se em
pedaços quando ela me contou a sua história…
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