segunda-feira, 29 de outubro de 2012

mais uma página...


Foi um momento que nunca irei esquecer,  descobri o amor, convidei-a a sentar-se junto ao fogo.
 
António pressentindo a ausência de perigo deslocou-se para o outro extremo do acampamento improvisado.

 - A noite está fria, senta-te junto ao lume. Ela acenou com a cabeça  de forma ligeira sentando-se à minha frente.

 As chamas crepitavam e exerciam uma barreira física entre os nossos corpos.

 Observei-a discretamente, os longos cabelos negros, a tez pálida os traços finos que culminavam nuns lábios que rivalizam com a própria Deusa do Amor. Mas foram os profundos olhos cor de mel que me prenderam a respiração.

 O olhar nada escondia, era demasiado profundo, demasiado perfeito, nele conseguia ver um misto de medo, tristeza e ao mesmo tempo esperança num amanhã melhor.

 O vento soprou com mais força afastando as chamas, cruzamos o olhar, notei desconforto no olhar dela, tinha perdido a noção do tempo, sentia que tinha de quebrar o gelo, mas sem o saber estava a apaixonar-me a um ritmo alucinante e paixão faz os jovens serem tolos.
 
No passado já tinha vivido brincadeiras fugazes com mulheres, escravas na Villa, um beijo roubado uma carícia.

 Mas nunca me tinha sentido assim, eu sabia que era um mau cristão, vivia sob a influência dos Deuses dos meus Antepassados, mas o rosto dela vi o reflexo dos anjos que os cristãos falavam, a beleza pura e simples que não imaginava existir.

 Hoje sou um velho, numa terra conquistada, o meu nome obriga-me a  viver escondido. Sobrevivi a guerras e emboscadas, perdi amigos, irmãos, vi atrocidades, glória, medo, mas nunca esqueci o momento em que a conheci e ouvi o seu nome. Em muitos momentos foram essas memórias que me fizeram seguir o caminho sinuoso que decidi traçar.

 - Chamo-me Decimus e tu? Ela ao início hesitou, um compasso de espera doloroso, onde pensei que me fosse ignorar ou que o choque da queda da cidade lhe tivesse quebrado o espirito. Até que respondeu. – O meu nome é Tibéria

 E o meu coração desfez-se em pedaços quando ela me contou a sua história…

Sem comentários:

Enviar um comentário

Parte 5

Os dias,  as noites, sobretudo as noites assumiram um ritual.  Um permanente sonhar acordado. Um formigueiro no corpo, mil imagens a passar ...