domingo, 13 de dezembro de 2015

XVIII

Grávida, grávida, grávida, disse uma centena de vezes a palavra no meu subconsciente.
 
O tempo que demorei a reagir pareceu uma eternidade. E foi ténue, a minha maneira de lidar com o choque e a perda é singular.
 
- Parabéns Inês espero do coração que tudo corra bem para ti e o bebé - foi o que consegui dizer antes de me levantar e virar costas.
 
- Espera - virei-me e encarei o olhar dela. percebi naquele o momento o porque de a amar com toda a minha alma.
 
 Aquele olhar profundo onde eu conseguia "ler" aquilo que mais ninguém via, os traços do rosto dela mesmo triste incendiavam o meu coração moribundo. Eu tinha a chave do cofre mas não o podia abrir.
 
- A sério que te amo João, lutei contra isso, repudiei-me, achei que era tudo errado, mas enganei-me, foi o maior erro da minha vida.

- Obrigado pela simpatia, boa sorte com a tua vida Inês - soa a estúpido mas foi o que consegui dizer antes de sair do restaurante abruptamente.

Andei cerca de uma hora a vaguear pelas ruas de Lisboa, sem destino motivo o razão, andava para não me sentar e encaixar todas as peças.

Voltei ao escritório, sentei-me e chorei do nada, não sei se chorei de raiva, de resignação ou mesmo desespero.

Pensei em ligar a Marisa, o sexo ia fazer-me bem, desisti era uma ilusão, depois viria o vazio.

Fui lavar a cara, voltei, apaguei o número da Inês, eliminei todos os registos nas redes sociais que me podiam levar a ela.

Fui ao email, em tempos tinha recebido um convite tentador para ir para o Reino Unido trabalhar, tinham-me dado três meses para ponderar se aceitava a mudança para Gales.

Estive mais de vinte vezes pronto a responder que não aceitava, mas aguardei sempre. Provavelmente eu sabia que iria ter de aceitar, de mudar, de reencontrar-me, longe de tudo e todos.

E aceitei, era tarde quando tinha a carta de despedimento pronta, deixei a entrega para o dia seguinte, era demasiado tudo no mesmo dia.

Estava triste, demasiado triste mas não iria deixar que a tristeza ultrapassasse o limiar do meu amor por mim.

Saí entrei no carro, meti um velho cd dos meus dezassete anos e fui beber um copo...




 

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