Estava a arrumar a cozinha,
isolada de tudo, olhei pela janela estava frio, era uma daquelas típicas noites
do interior do País, a escuridão inundava a rua.
Tive um pressentimento estranho, algo aqueceu
o meu coração, era estranho andava melancólica desde que o conheci.
Nunca o tive, nunca o beijei e
passo as noites a chorar por ele, não compreendia, todos os dias lutava por o
esquecer, impossível.
Mesmo quando descobri que ia ser
mãe, a alegria transformou-se em mais um amargo estado de alma, a criança ia
ser amada, era a minha razão de resistir, de não largar tudo mas tudo, o que eu
pensava é que a criança devia ser dele. Era tudo mais fácil.
Sei que sou cobarde, estou a
abdicar de ser feliz, a porta tocou. O Rui estava na sala a ver televisão.
Espreitei a rua vi um carro como
os faróis acesos junto a entrada da casa, dirigi-me a porta, senti ansiedade,
espreitei era o João. O que faz ele aqui.
Abri a porta, olhei para ele
espanto, fiz um sorriso tímido, como é possível eu amar aquele homem tanto e
resistir a dar-lhe os sinais que ele merecia.
- Estás perdido? – foi o que
consegui dizer mas o meu coração queria dizer muito mais – Não, o GPS funcionou
maravilhosamente, cheguei à primeira - disse ele.
- O que fazes aqui João? – questionei
com medo da resposta – Vim dizer-te algo .
Ficámos em silêncio
- Inês vou amar-te para sempre,
não vai passar um dia da minha vida que não me lembre de ti, desejo-te o melhor
sempre, mesmo que o melhor para ti seja longe de mim.
Que prova de amor, senti naquele
momento que nunca o iria deixar de amar, vivesse eu mil anos, tinha de lhe
dizer que sentia o mesmo, de pedir desculpa, porque o certo era estarmos
juntos, felizes.
- João… - ia falar, mas abruptamente o Rui
tinha chegado junto à porta.
E o Rui estragou tudo, confusão
instalada, descubro que o João vai para Inglaterra, não o censuro, estou grávida,
não lhe consigo dar o amor que realmente sinto.
Na despedida atribulada ele subtilmente
deixa um bilhete com algo manuscrito e segue no seu carro.
Ainda bem era sozinha que eu
queria estar. Sentei-me no sofá, abri o bilhete, tive medo de o ler, fechei-o
novamente e voltei a abrir.
“Inês,
Tinha de te ver, espero que me
perdoes a ousadia.
Vou partir, preciso de me descobrir, de vencer
o vazio em que a minha vida ficou. Não
mudava nada. O que sinto por ti vai para além do sublime, contigo descobri o
amor mesmo nunca te tendo ou venha a ter. Todos os dias acordo com uma dor no peito, todos os dias sonho em beijar-te, fazer amor contigo, a tua ausência sufoca-me.
Deixo-te a minha morada no Reino Unido e o meu endereço de e-mail.
Se um dia perceberes ou sentires o mesmo, a criança nunca será uma barreira…
Oak Road 20121 – Cardiff – País
de Gales”
Li três vezes, guardei o bilhete e fechei os olhos...
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