sábado, 19 de dezembro de 2015

XXII


Estava a arrumar a cozinha, isolada de tudo, olhei pela janela estava frio, era uma daquelas típicas noites do interior do País, a escuridão inundava a rua.

 Tive um pressentimento estranho, algo aqueceu o meu coração, era estranho andava melancólica desde que o conheci.

Nunca o tive, nunca o beijei e passo as noites a chorar por ele, não compreendia, todos os dias lutava por o esquecer, impossível.

Mesmo quando descobri que ia ser mãe, a alegria transformou-se em mais um amargo estado de alma, a criança ia ser amada, era a minha razão de resistir, de não largar tudo mas tudo, o que eu pensava é que a criança devia ser dele. Era tudo mais fácil.

Sei que sou cobarde, estou a abdicar de ser feliz, a porta tocou. O Rui estava na sala a ver televisão.

Espreitei a rua vi um carro como os faróis acesos junto a entrada da casa, dirigi-me a porta, senti ansiedade, espreitei era o João. O que faz ele aqui.

Abri a porta, olhei para ele espanto, fiz um sorriso tímido, como é possível eu amar aquele homem tanto e resistir a dar-lhe os sinais que ele merecia.

- Estás perdido? – foi o que consegui dizer mas o meu coração queria dizer muito mais – Não, o GPS funcionou maravilhosamente, cheguei à primeira - disse ele.

- O que fazes aqui João? – questionei com medo da resposta – Vim dizer-te algo .

Ficámos em silêncio

- Inês vou amar-te para sempre, não vai passar um dia da minha vida que não me lembre de ti, desejo-te o melhor sempre, mesmo que o melhor para ti seja longe de mim.

Que prova de amor, senti naquele momento que nunca o iria deixar de amar, vivesse eu mil anos, tinha de lhe dizer que sentia o mesmo, de pedir desculpa, porque o certo era estarmos juntos, felizes.

- João… - ia falar, mas abruptamente o Rui tinha chegado junto à porta.

E o Rui estragou tudo, confusão instalada, descubro que o João vai para Inglaterra, não o censuro, estou grávida, não lhe consigo dar o amor que realmente sinto.

Na despedida atribulada ele subtilmente deixa um bilhete com algo manuscrito e segue no seu carro.

 Entrei em casa, quando o que queria era sair, o Rui gritava irado, pedi para ele se acalmar pelo nosso filho, ele saiu de casa, foi ter com os amigos, deixou-me sozinha.

Ainda bem era sozinha que eu queria estar. Sentei-me no sofá, abri o bilhete, tive medo de o ler, fechei-o novamente e voltei a abrir.

“Inês,

Tinha de te ver, espero que me perdoes a ousadia.
Vou partir, preciso de me descobrir, de vencer o vazio em que a minha vida ficou.  Não mudava nada. O que sinto por ti vai para além do sublime, contigo descobri o amor mesmo nunca te tendo ou venha a ter.

Todos os dias acordo com uma dor no peito, todos os dias sonho em beijar-te, fazer amor contigo, a tua ausência sufoca-me.

Deixo-te a minha morada no Reino Unido e o meu endereço de e-mail.
Se um dia perceberes ou sentires o mesmo, a criança nunca será uma barreira…

Oak Road 20121 – Cardiff – País de Gales”

Li três vezes, guardei o bilhete e fechei os olhos...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Parte 5

Os dias,  as noites, sobretudo as noites assumiram um ritual.  Um permanente sonhar acordado. Um formigueiro no corpo, mil imagens a passar ...