sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
capítulo XVI
A outra mensagem dizia assim.
"J vê a foto da nossa colega Inês no facebook, atrevidota eheheh"
Era o António, colega de trabalho. Acabei de flutuar e regressei à terra invadido por uma ansiedade quase juvenil.
Afastei-me e deixei a curiosidade vencer, no fundo amaldiçoei o pateta gordo do António.
Ainda estava a digerir o melhor momento da semana e levei com um meteorito em cima.
Entrei na merda da aplicação e vi, desliguei, voltei a ver e desliguei novamente, acho que fiz isto umas dez vezes. Até que fiquei hipnotizado a olhar.
Na verdade a foto não estava no facebook dela, era uma foto onde ela aparecia identificada.
Estava num sofá, vestido escuro, curto, bem colada ao namorado a trocar um beijo. Associado a foto vinham os comentários, "adoro-te Rui".
A foto iria irritar-me, sempre, mas a terrível coincidência de a ver cinco minutos após receber uma mensagem dela foi a gota de água, o comentário simplesmente arrasou.
Senti-me um palhaço, perdi a força de lutar, ceguei.
"Inês faz-me um favor, deixa-me, consigo viver sem ti"
Era mentira, estupidamente ainda gostava mais dela mas tinha de reagir, o meu amor próprio tinha levado um rombo.
- João que cara é essa, estavas a rir sozinho e agora parece que viste um fantasma - disse o Nuno - Traz mais uma e cala-te urso - foi o que consegui dizer.
Bebemos, rimos feitos adolescentes, velhas histórias. Amizades com mais de vinte anos, loucuras e brincadeiras do passado, sabe sempre bem recordar.
- Bem malta vou indo, já tive a minha conta - disse em jeito de despedida - Fica pá, vamos sair, vamos ao Bairro - responderam quase em uníssono.
- Na, estou cansado, fiquem bem - fiz um sorriso forçado e saí. Queria a autocomiseração apenas para mim.
Falar com alguém só iria acentuar o sofrimento. Entrei no carro, olhei-me, não me reconheci, amaldiçoei o amor.
Jurei nunca mais amar outra mulher, a Inês era a minha mulher, ela era o que sempre quis, o que sonhei, desde miúdo que procurei o amor e quando o encontrei ele fugiu de mim.
Liguei o carro, sabia que iria ter outras mulheres, mas sabia que as feridas nunca iriam sarar, só uma pessoa podia curar-me e ela apesar da contradição que me fazia assolar a alma, no fundo escolheu outro caminho.
A Inês respondeu a minha mensagem, ela era inteligente, sem precisar de dizer algo percebeu.
"Quarta-feira no sítio onde almoçámos, uma da tarde, aparece, desculpa..."
- Oh fodasse, escrevi cem vezes e apaguei que não ia e nunca consegui enviar, acabei por dizer, "ok".
Arranquei, era sábado, principio de noite, precisava de ir para o meu refúgio, conduzir fazia-me relaxar.
Respirei, no fundo eu era um escravo do amor e um escravo consciente...
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