Lisboa, duas da manhã, deitado na cama fito o teto do quarto do hotel. A merda do sono não vem.
A culpa é da Inês, aquele sorriso enigmático, o modo como os lábios se movem, o humor mordaz, o corpo magro e sensual...
E daquela rápida conversa, as palavras, o que disse, o que deveria ter dito, o que gostaria de ter ouvido, tudo se mistura na minha cabeça, uma equação sem resposta.
Foi ocasional, quis o destino que a encontrasse, passado dois anos, num almoço de trabalho.
Mas na verdade eu nunca a tinha esquecido.
Tinha chegado ao ponto de fazer amor com outras mulheres e imaginar o rosto dela.
Estou inquieto, viro-me, dobro-me, estico-me, não estou confortável. Acendo um candeeiro, fito o meu resto num enorme espelho e não me reconheço.
Salto da cama, olho para o telemóvel, nada, sigo em direção ao mini bar. Abro a porta com brusquidão, observo e opto por uma pequena garrafa de gin.
Abro e sigo em direção a janela, afasto a cortina, olho-me mais uma vez ao espelho. faço uma careta, visto uma camisa e vou para a varanda.
É Novembro, está frio, um vento sopra vindo do rio em direção ao Chiado. Coloco as mãos no corrimão frio, regresso ao quarto, visto uma camisa e volto ao exterior.
Observo, as luzes as ruas sem ninguém, sinto a minha respiração, o vapor do ar que expiro. Fecho os olhos por segundos e em seguida olho para o céu, a lua, praguejo e bebo.
Bebo para esquecer, bebo para recordar, uma pequena lágrima escorre pelo rosto, nem me dou ao trabalho de limpar.
Respiro fundo, sinto-me ridículo, ligo a televisão. Apanho os Roxy Music, Slave to love, digo para mim mesmo, perfeito, lamechas...
Aumento o som, olho novamente para o telemóvel, uma mensagem da Rita.
"Olá João, nunca mais disseste nada, tenho pensado em ti..."
Nem respondo, tudo o que iria dizer era falso.
Porra, é sina. A Rita pensa em mim eu penso na Inês que pela sua vez deve estar a dormir com alguém, quem disse que era fácil.
Digo para mim mesmo ela não merece, eu fiz de tudo para a ter, mostrei-me, dei-me a conhecer, ela não quis saber, não consigo desistir mas tenho de parar,
Despi-me fui para o duche, não tenho calma, é difícil esperar, tenho 34 anos mas a paciência nunca foi uma qualidade.
No fundo eu queria sonhar, que me querias tocar, mas estava acordado, irritado, sai do duche e vesti-me.
Vesti-me para sair, eram 3h da manhã, queria esquecer-me, era um risco calculado, tinha uma reunião às 10h, ficar na cama a olhar para o teto ou sair.
Fodasse sai, já estava tudo estragado, portanto...
Fartei-me de ser certo e mesmo com o coração colado ao peito, segui a deriva.
Entrei no carro, desliguei o telemóvel e conduzi até Santos.
E a confusão começou...
fim da primeira parte...
*sem revisão, quando acabar tento compilar...
(y)
ResponderEliminará distancia, mas um amigo..... Força para ti