O elevador estava quase cheio,
passou-me pela cabeça dar essa desculpa e ficar ali. Acabei por entrar.
- Boa tarde como vai Inês? – Boa
tarde João, divertiu-se ontem?
Ninguém pode ter dúvidas que ela
é direta, uma predadora que ataca o ponto fraco da presa.
- Sim, gostei do espaço e você
divertiu-se? – Fui evasivo e achei que devia optar por um registo formal.
- Pareceu-me que estavas muito
efusivo – Cansei-me da ironia, ia entrar no “jogo” dela.
- Reparou em mim? Fico
lisonjeado, pensei que era invisível para si – João aquele não era o sítio nem
o momento certo para termos aquela conversa.
Merda, Merda, Merda, ia-me
engasgando. Será que estraguei tudo ao ir para a cama com a Marisa?
Sei que não é desculpa mas ela
também estava agarrada aquele namorado, marido, aquele montanhês ciumento.
Hoje tens um minuto? Almoçamos? –
Ela hesitou, pensou, pensou – Ok, mas tem de rápido tenho pouco tempo.
Descemos e fomos em direção ao
pequeno restaurante familiar na esquina do escritório. Era um daqueles
restaurantes típicos de refeições rápidas, pequeno, familiar e onde todos se tratavam
por tu.
Durante o curto trajeto fui
traçando cenários, discursos, nada me soava bem. Assim, achei melhor agir de
forma natural e abusar da escuta ativa.
Depois de nos sentarmos numa mesa
arrumada num canto do restaurante e após a uma trivial conversa que terminou na
escolha de arroz de pato acompanhado de um refrigerante light e água fresca
para mim, achei que teria de começar a falar.
Devia ter pedido uma imperial,
água não ajuda…
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