Engraçado, ela nem é propriamente
o meu estilo de mulher, se fizer uma retrospetiva da minha vida amorosa,
concluo que o destino é tramado.
É altiva, bonita, demasiado até
para o meu gosto, traços finos, elegante, saltos altos, lábios finos, cabelo
claro, sensual e um olhar que me deixava louco apesar da indiferença que me
fazia sofrer.
A Inês também me viu, não adianta fazer de
conta e fugir, ganho coragem e aproximo-me. Está sozinha, presumo que só momentaneamente.
- Olá Inês, por aqui? – As
palavras saem devagar, tento mantendo o ar mais natural possível, é difícil – Sim
e tu perdido? – Responde ela.
A verdade é que temos dificuldade
em falar um com o outro, das poucas vezes que tivemos juntos só me lembro de
uma noite em que a conversa fluiu, provavelmente o culpado foi o vinho branco
do jantar. De resto as conversas foram curtas, monossilábicas, um desastre.
E nessa noite por obra do acaso ficamos momentaneamente
sozinhos, uns saíram outros foram fumar e eu despistei-me, disse que me sentia
demasiado atraído por ela, que morrer sem nunca a sentir seria demasiado
estúpido e até disse mais, mas não vale a pena repetir.
O som está alto, toca uma música
demasiado sensual para o momento, Selena Gomez, qualquer coisa assim. Respiro
fundo, tenho de ir direto ao assunto, sou assim.
- Tens um minuto? Ficaste
zangada? Não me disseste mais nada, não me respondeste a nenhuma mensagem,
falei de mais? – Demasiadas perguntas, apercebi-me disso mal acabei.
- Não tinha nada para te dizer,
apreciei a tua sinceridade, mas não tenho nada para te dizer.
- Ok, só isso? Os teus sinais, o
teu corpo não me transmitia essa indiferença – Retorqui com pouca convicção – João!
Esquece, a minha vida não é compatível com paixonetas, tenho 33 anos, família,
carreira.
Quando me preparava para
retorquir aproxima-se um homem vindo do bar com dois copos.
- Boa Noite – Diz o estranho que
eu percebi logo quem seria – Olá boa noite – Digo a contragosto.
- João este é o meu namorado o
Jorge, Jorge este é o João, trabalha numa Empresa ligada a minha, o que faz de
nós colegas, certo? – Disse a Inês com a sua calma característica.
- Sim, somos colegas e pelos vistos
também noctívagos – respondi – Um dia não são dias amanhã as reuniões começam
mais tarde e recebi a visita surpresa do Jorge, não podíamos deixar de
aproveitar a noite – cada palavra que ela dizia, cada sorriso que trocavam
faziam-me sentir nauseado.
- Bem divirtam-se e até amanhã – Rapidamente
voltei ao bar, precisava de beber.
Mas ainda consegui ouvi o Jorge
dizer com ironia – Aquele teu colega é uma simpatia – A Inês cruzou os ombros e
de relance vi-os começar a dançar.
Iludi-me, senti-me o tipo mais miserável
daquela discoteca.
Mais um copo e sabia que ia
dançar, só não sabia o que ia provocar…
Parte III
*sem revisão
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