sábado, 7 de novembro de 2015

um conto parte III


Engraçado, ela nem é propriamente o meu estilo de mulher, se fizer uma retrospetiva da minha vida amorosa, concluo que o destino é tramado.

É altiva, bonita, demasiado até para o meu gosto, traços finos, elegante, saltos altos, lábios finos, cabelo claro, sensual e um olhar que me deixava louco apesar da indiferença que me fazia sofrer.

 A Inês também me viu, não adianta fazer de conta e fugir, ganho coragem e aproximo-me. Está sozinha, presumo que só momentaneamente.

- Olá Inês, por aqui? – As palavras saem devagar, tento mantendo o ar mais natural possível, é difícil – Sim e tu perdido? – Responde ela.

A verdade é que temos dificuldade em falar um com o outro, das poucas vezes que tivemos juntos só me lembro de uma noite em que a conversa fluiu, provavelmente o culpado foi o vinho branco do jantar. De resto as conversas foram curtas, monossilábicas, um desastre.

 E nessa noite por obra do acaso ficamos momentaneamente sozinhos, uns saíram outros foram fumar e eu despistei-me, disse que me sentia demasiado atraído por ela, que morrer sem nunca a sentir seria demasiado estúpido e até disse mais, mas não vale a pena repetir.

O som está alto, toca uma música demasiado sensual para o momento, Selena Gomez, qualquer coisa assim. Respiro fundo, tenho de ir direto ao assunto, sou assim.

- Tens um minuto? Ficaste zangada? Não me disseste mais nada, não me respondeste a nenhuma mensagem, falei de mais? – Demasiadas perguntas, apercebi-me disso mal acabei.

- Não tinha nada para te dizer, apreciei a tua sinceridade, mas não tenho nada para te dizer.

- Ok, só isso? Os teus sinais, o teu corpo não me transmitia essa indiferença – Retorqui com pouca convicção – João! Esquece, a minha vida não é compatível com paixonetas, tenho 33 anos, família, carreira.

Quando me preparava para retorquir aproxima-se um homem vindo do bar com dois copos.

- Boa Noite – Diz o estranho que eu percebi logo quem seria – Olá boa noite – Digo a contragosto.

- João este é o meu namorado o Jorge, Jorge este é o João, trabalha numa Empresa ligada a minha, o que faz de nós colegas, certo? – Disse a Inês com a sua calma característica.

- Sim, somos colegas e pelos vistos também noctívagos – respondi – Um dia não são dias amanhã as reuniões começam mais tarde e recebi a visita surpresa do Jorge, não podíamos deixar de aproveitar a noite – cada palavra que ela dizia, cada sorriso que trocavam faziam-me sentir nauseado.

- Bem divirtam-se e até amanhã – Rapidamente voltei ao bar, precisava de beber.

Mas ainda consegui ouvi o Jorge dizer com ironia – Aquele teu colega é uma simpatia – A Inês cruzou os ombros e de relance vi-os começar a dançar.

Iludi-me, senti-me o tipo mais miserável daquela discoteca.

Mais um copo e sabia que ia dançar, só não sabia o que ia provocar…

 

Parte III

*sem revisão

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