O sacana adivinha sempre, somos
amigos desde os seis anos, nunca discutimos por causa de uma miúda.
Ele normalmente queria sempre as
gordinhas e eu por acaso não me importava.
- Adivinhaste, o meu problema
chama-se Inês – Para que inventar ela era mesmo um problema, um teorema de
Pitágoras amoroso.
- Já a pinaste? – Admiro a
simplicidade e a forma simples de como ele vê a relação homem-mulher, pinanço.
- Não, ela nem um beijo ou abraço
me deu – O quê? E ficaste tontinho? Porra, já não te conheço.
Ele nem ninguém conheceu o meu
lado mais sensível, sempre o guardei para mim, o lado quixotesco, o meu lado
obscuro.
Passei trinta e cinco anos a
fingir que era um durão, estava realmente farto, de durão nada tenho, mas era
algo que precisava de tempo, algum tempo para revelar intrinsecamente aquilo
que era a minha essência.
- Apaixonei-me, sabes não consigo
explicar, desde o primeiro momento em que a vi sentada numa cadeira a minha
frente. E não penses que foi uma espécie de tesão louco, sim ela é bonita
atraente, mas o meu primeiro impulso não foi possui-la, foi contemplar. Olhar para
ela, saborear o sorriso que ela raramente mostrava, entrar dentro daquele olhar
escrutinador, tocar-lhe na alma e coração. Sim, também a desejo como mulher,
não posso ser hipócrita. Ontem fazia sexo e só a via, estou apanhado.
Grande monólogo fiquei sem
folego, ele bebeu licor beirão inteiro enquanto eu desabafava e acho que pensou
que tinha perdido o juízo.
- Ela é casada? Gosta de outro? Não
te acha piada? – Tanta pergunta, mas revelou alguma preocupação, devia ter mesmo
uma expressão sofredora
- Sim, tem um namorado, marido,
um tipo chamado Rui, se gosta dele não sei, deve gostar.
- Então e andas a perder tempo
porquê? – Sensato e pragmático – Olha não sei, não consigo explicar o que sinto
por ela, só sei que é demasiado forte.
- Hum bebemos mais um copo? –
Sim, podes pedir, bem preciso – Fala-me da outra? Aquele com quem foste para a
cama?
E ao mesmo tempo, entrou nova
mensagem no meu telemóvel.
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