segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Hoje vou falar de alguém...

Nada de nomes...apenas uma história de alguém que conheço.

Vou falar de um miúdo que hoje é um homem. Um miúdo igual a tantos outros, talvez mais introspectivo, mas sociável, com amigos, família, sonhos e muita ilusão.

Esse miúdo foi crescendo, ganhando consciência, mantendo as ilusões intactas, sonhando que poderia mudar o mundo. Um dia, com dezassete anos, a caminho da escola parou, não conseguia andar, sentia-se ofegante, sem força. A sua essência era lutar, levantou-se e o caminho que demorava cinco minutos fez em trinta.

Pensou que tinha sido algo momentâneo, guardou para ele, até esse episódio sempre fora forte.

Mas a falta de força continuava, os vómitos eram constantes, não conseguia dormir nem comer.

Conseguiu esconder durante uma semana, teve medo, pensou que teria a solução mas não.

Um dia caiu à frente dos seus, não dava mais, era penoso, o sofrimento atroz, estava no limite.

Foi a vários médicos, várias questões e teorias mas as respostas não surgiam.

Perguntaram-lhe se tomava drogas e ele chorou.

Chorou de raiva de sofrimento da incapacidade em entenderem o que sentia.

Um dia deixou de conseguir sair da cama, as forças tinham acabado, só havia trevas.

Foi para o Hospital, família desesperada, passaram dez horas, sentado a agonizar numa cadeira de rodas. "Ele tomou drogas?"

Era a pergunta frequente das profissionais de saúde, a família agunizou, as perguntas sem sentido e a inércia acabavam por criar ainda mais desconforto.

E de repente entrou em coma, o corpo cedeu, a mente também, aquele miúdo sonhador sucumbiu.

Lutou até à exaustão, durante semanas assistiu à degradação do seu corpo e mente, manteve-se calmo, lúcido, sem criar desespero, apesar de saber no seu íntimo que era grave.

Esteve quase doze horas em coma, um médico mais afoito compreendeu os sinais. E ele sem saber continuava a lutar pela vida.

Acordou, sem saber onde estava, calmo, demasiado calmo, os pais choravam, os amigos idem.

Sentia-se tonto, estava a recuperar ia demorar mais dois dias até voltar a andar. Os pais não tiveram coragem de lhe dizer, foi o médico.

E disse que o rapaz tinha uma doença que o iria acompanhar para o resto da vida, dependendo da sua atitude  não o iria limitar em nada caso contrário seria sempre uma vida de mal estar.

Esperaram que ele se revoltasse, chorasse, se tornasse agressivo, precisasse de um psicólogo.

Mas ele apenas perguntou quando podia ir para casa.

E sei que com altos e baixos está bem.

É um homem saudável e nunca fez da sua história uma justificação para os seus falhanços.


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