sábado, 7 de novembro de 2015

Um conto parte II


 

Eram três e meia da manhã quando passei pelo atónito empregado da receção.
- Boa noite, onde me posso divertir um pouco a esta hora? – Perguntei ao jovem ensonado.
- O que procura? – O sorriso escarninho dizia tudo – Não quero o que está a pensar, apenas beber algo, ver gente, distrair-me percebe?
- Ah ok, a esta hora normalmente procuram outra coisa, siga até alcântara estacione na parte velha e vai encontrar o que procura.
Achei vago, mas não estava para perder mais tempo. Entrei no carro, liguei o rádio, uma daquelas músicas africanas da moda, o refrão dizia “ Deitar-me na cama encostado em ti…”.
Fodasse, Fodasse, tudo me fazia lembrar a Inês, maldita a hora em que a vi, que ousei desejar, que sempre que fecho os olhos vejo o seu rosto, arranquei o mais depressa possível, precisava de me distrair rapidamente.
Cada sinal, cada cruzamento, um suplício, tinha pressa em chegar, parei numa ruela perto da PSP, olhei em redor e vi que o rececionista me tinha indicado uma daquelas discotecas da moda.
O típico espaço cheio de gente frequentado por pessoas entre os trinta e os quarenta anos que adora aparecer nas revistas e para os quais ficar acordado até de madrugada numa terça-feira é algo banal.
 Dirigi-me ao porteiro, um tipo baixo e demasiado largo, provavelmente viciado em esteroides e ginásio.
 Olhou-me de cima a baixo.
- Boa noite, sozinho? - Sim, vim beber algo, dia difícil muitas reuniões, a precisar de relaxar.
- Precisa de algum extra? Pó? – Perguntou em tom de sussurro – Não, apenas de um copo.
Deixei o porteiro, sem remorosos, como andavam as coisas em Lisboa, provavelmente iria ter sorte com próximo cliente.
Entrei, comecei por escutar a música, dance music, comercial com um toque do DJ. Os meus olhos cansados demoraram um pouco a adaptar-me ao ambiente escuro que contrastava com as luzes que oscilavam de acordo com o som.
Segui em direção ao bar, precisava de beber, não sendo um pé de chumbo, nunca fui um dançarino nato, talvez se deva ao fato de ser um homem alto.
Enquanto tentava, através do meu melhor sorriso, ter um pouco da atenção da barwoman, uma loira, vistosa, que despejava mecanicamente gelo e álcool em copos de plástico, observei a pista de dança.
Estava cheio de pessoas, mais mulheres que homens, na maioria bem vestidos, algumas de forma bem provocante e sensual. Sendo que essas atraiam um enxame de machos metrossexuais que gravitavam tal como satélites à volta de um planeta.
 Nada de estranho, desde novo que saio a noite, sempre foi e sempre será assim.
Finalmente consegui fazer com que no bar reparassem que estava vivo.
- O que bebe? – Expressou-se de forma rápida, incisiva e monocórdica.
Percebo elas não podem perder tempo com tipos que acham que vão engatar a boazuda do bar por isso evitam ao máximo diálogos longos.
 – Gin tónico com pouco gelo – respondi no mesmo tom. Nunca tive a fantasia de acabar a noite com a mulher do bar.
E quando aproximava o copo dos lábios vi-a, porra Lisboa é pequena…
 
Fim da segunda parte
*sem revisão

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